Árbitra chefe do Floripa Chess Open, Elana Souza relata alegrias e desafios em arbitrar o maior torneio de xadrez do Brasil

 

 

Elana Silva de Souza é Árbitra Internacional e há três anos é a árbitra chefe do Floripa Chess Open, maior torneio de xadrez do Brasil. A catarinense, natural de Lages também integra a equipe de Florianópolis em competições estaduais como os Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC) além de arbitrar torneios nacionais e internacionais. Conheça mais sobre a carreira da Elana, desafios e conquistas proporcionadas pela arbitragem no xadrez.

Quando e com quem você aprendeu a jogar xadrez? Como começou a carreira na arbitragem?

Aprendi a jogar xadrez em 2007/2008 nas aulas de educação física da EMEB Santa Helena, com a professora Kátia, em Lages SC, depois, com a implementação do projeto social “bate bola na escola” comecei a fazer aulas de xadrez no contra turno escolar com o único objetivo de vencer meu irmão mais velho. Alcancei meu objetivo, mas estava encantada demais com o jogo para sair da escolinha. Quando era criança e jogava os torneios escolares, ficava admirando as pessoas que estavam por trás de tudo aquilo. Em 2012 tive a oportunidade de arbitrar um JESC de 12 a 14 anos e desde então não parei mais. Fiz curso para AA, arbitrei vários torneios no CXF, depois alguns estaduais, subi de categoria, arbitrei mais um pouquinho, participei do seminário FIDE, depois mais algumas normas e Voilà: AI Elana!


Quais foram os campeonatos mais marcantes para você que já arbitrou?

Arbitrei alguns torneios importantes como Estaduais, Brasileiros, Pan, Continental, mas nenhum deles foi tão desafiador quanto estar a frente da equipe de arbitragem do Floripa Chess Open 2021. Muitos foram os fatores que o fizeram mais marcante: minha posição de arbitra chefe, pela pandemia e cuidados sanitários, quantidade de jogares, condição emocional, críticas e elogios pós evento.

Como avalia o caminho de mudança de níveis na arbitragem desde AA para AI?

Sobre o caminho de AA para AI: como comecei bem cedo, o fato ter a idade mínima para ascender para AN e AF logo que cumpri os requisitos necessários me deixou bem ansiosa. considero-me muito imediatista. Mas não foi difícil. Tive muita incentivo e apoio pelo caminho. Claro que tiveram momentos difíceis, mas de forma geral foi bem gratificante.

Como é ser árbitra chefe de um torneio gigante como o Floripa Chess Open?

Eu estive presente na equipe de trabalho do FCO desde a primeira edição, com exceção da edição de 2020. Presenciei as dificuldades, cometi erros, participei de tomadas de decisão importantes, das melhorias dos processos, enfim, evolui junto com o torneio. Mas é claro que ser mulher num ambiente predominantemente masculino e numa posição de poder é muito desafiador. Já foi na edição anterior e tenho certeza de que será ainda mais este ano.


Quais as maiores dificuldades e maiores alegrias na carreira de arbitragem?

Dificuldades e alegrias: sem sombra de dúvidas, a maior dificuldade é lidar com o machismo. Já perdi as contas de quantas vezes a minha decisão não foi aceita, de quantas vezes precisei recorrer a um árbitro para comunicar decisões que eu tomei, ou que pediram uma segunda opinião de um árbitro homem, pois não confiavam nos meus conhecimentos. Quanto as alegrias, elas estão presentes ao fim de um torneio bem sucedido, no reconhecimento, ao rever os amigos.

Espera ver mais mulheres na arbitragem? Como incentivar a participação feminina?

Com certeza! É algo que desejo demais! E não só na arbitragem, mas também nos tabuleiros e pódios recebendo premiações e condições iguais a de homens; na organização de torneios, a frente de clubes, federações, confederação…enfim. O curso de arbitragem gratuito para mulheres tem exatamente esse objetivo: incentiva-las a ganhar espaço no ambiente enxadristico e mudar o cenário atual.

Deixe um conselho para quem está iniciando na arbitragem sobre as oportunidades e desafios desta escolha.

Acredito que seja necessário melhorar as condições dos torneios (premiações e benefícios), promover um ambiente saudável e seguro, onde possamos nos concentrar e jogar sem as preocupações que temos atualmente, punindo qualquer atitude machista, misógina e preconceituosa.

Edição e entrevista: Lizi Vicenzi – Assessoria de Comunicação do FCO 2022 – lizivicenzi@gmail.com